O desenvolvimento da linguagem dos 0 aos 6 anos

O desenvolvimento da linguagem é um processo muito complexo. Falar implica ouvir e processar o que se ouve, replicar utilizando as palavras adequadas e fazendo os movimentos articulatórios corretos, a partir do comando neurológico, utilizando músculos específicos e regulando a capacidade respiratória.

Para falar temos de pensar, construir frases, escolher as palavras, recorrer a símbolos para expressar o
nosso pensamento, tudo numa fração de segundos, de modo a partilhar sentimentos, ideias, valores, factos e pensamentos.

A evolução da linguagem, tal como acontece com o desenvolvimento da criança noutras áreas, é um processo
gradual e não é igual para todas – umas têm um ritmo mais lento, outras mais acelerado.

Por volta da 3ª semana de vida o bebé começa a esboçar o sorriso dirigido aos pais, sabendo que este é o melhor meio de captar a sua atenção.

1º mês – o bebé já consegue fixar o rosto do pai ou da mãe por longos períodos ficando cada vez mais interessado até esboçar um sorriso aberto. Se for correspondido com outro sorriso, tenderá a prolongá-lo. Já balbucia, emitindo breves sons de contentamento e segue os sons e a face.

2º mês – começa a palrar e a produzir vocábulos em resposta à estimulação quando brincam com ele. Chora quando quer chamar a atenção, começa a ser manipulador pois sabe que os pais respondem prontamente.

4º mês – geralmente já ri com intenção em resposta a estímulos que aprecia e chora em caso contrário. Começa a jogar com as suas novas aquisições, chora deliberadamente para chamar a atenção e após um compasso de espera volta a chorar com mais intensidade – é o chamado processo de causalidade: se tiver determinado comportamento sabe que obterá o resultado pretendido.

6/8 meses – já imita, tentando vocalizar com entoação, usa algumas consoantes: ma-ma, pa-pa, da-da, sem significado. Responde ao nome, grita para chamar a atenção dos adultos.

9/12 meses – começa a entender o “não”, usa palavras como mamã ou papá já com significado.

12 meses – já revela um entendimento do que ouve. Compreende ordens simples como “vai dar ao papá” ou “ vai buscar um brinquedo”, mostrando que sabe o que lhe estamos a dizer quer obedecendo quer mostrando claramente que não quer fazê-lo. Pode utilizar a linguagem gestual para se expressar, aponta para o que quer, acompanhando com gestos o seu discurso. Entretanto, poucas palavras serão perceptíveis – eventualmente já diz mais alguns monossílabos, tais como “dá”, “olá” ou “não”.

15 meses – a criança é ainda muito trapalhona a falar, compreende tudo e faz-se entender quer por palavras quer por gestos, pode utilizar alguns substantivos isolados. Fala com entoação e ritmo, mesmo que imperceptível pelos adultos e começa a mostrar frustração por não conseguir conversar ao ritmo que desejaria.

18 meses – utiliza várias palavras: bola, cão, nomes de algumas pessoas; identifica algumas partes do corpo; executa gestos mais complexos para se expressar.

2 anos – já utiliza alguns verbos e adjetivos como: “é bonito” ou “quero aquilo”. Compreende ordens complexas sendo capaz de cumprir 2 a 3 ordens em sequência “vai buscar os sapatos e vai dar ao pai que está na sala”. Já começa a utilizar o “eu”. Mesmo que ainda não fale, se a criança consegue expressar-se por gestos e utilizando a linguagem corporal.

Já é capaz de descodificar o que lhe é dito. No fundo, ainda que a maioria das expressões que usa sejam imperceptíveis, a compreensão do discurso mostra que o desenvolvimento se está a processar. Algumas crianças que já falam mas não conseguem expressar-se bem utilizam a linguagem gestual para comunicar-se com o outro.

3 anos – constrói frases mais elaboradas com 3 ou mais palavras. Já entende os contrários – cima/ baixo, dentro/fora, pequeno/grande. Já consegue utilizar o plural e por vezes o feminino/masculino. Já sabe o nome e a idade. Começa a questionar-se sobre o “porquê” das coisas.

4/5 anos – discurso mais elaborado, constrói frases mais elaboradas, expressa-se bem, utiliza os tempos verbais adequados. Pode eventualmente revelar ainda dificuldades no que se refere à articulação e/ou dição, que deverá ser observada caso persista.

 

 

Sinais de alerta no pré-escolar

o Fala tardia;

o Linguagem “à bebé” persistente;

o Palavras mal pronunciadas para além do esperado para a idade;

o Dificuldade em acompanhar e decorar canções, rimas e lengalengas;

o História familiar de fala tardia ou alterações ao nível da linguagem.

É importante identificar e orientar para a realização de um despiste em termos da linguagem e da fala ainda no pré escolar. Vários estudos tem apontado para a necessidade de observar e acompanhar de perto o desenvolvimento da linguagem e da fala, antes do ingresso no primeiro ciclo do ensino básico. 

As crianças com perturbações da linguagem e ou fala podem deparar-se com diversas dificuldades no seu quotidiano, mais concretamente na interação social, por apresentarem dificuldades em comunicar com os outros,. Da mesma forma podem manifestar alterações no comportamento e dificuldades na aprendizagem escolar.

As perturbações da linguagem e da fala podem ser a causa de problemas na aprendizagem, dado que o desenvolvimento da linguagem e da fala tem um papel fundamental na aquisição da leitura e da escrita. 

Alguns estudos que aproximadamente 6% a 8% das crianças que apresentam dificuldades na linguagem e na fala no período pré-escolar, irão também apresentar perturbações/atrasos no primeiro ciclo (Boyle, Gillham & Smith, 1996; Tomblin, Smith & Zhang, 1997, citado por Law et al., 2004). 

Essas dificuldades podem persistir até à idade adulta e trazem consequências não só para as crianças mas também para o meio/contexto onde a criança está inserida.

 

Regina Silva – Terapeuta da Fala

Dezembro 2016 – 2ª Edição