É difícil especificar as características de um sistema social tão complexo como a família. Daí que, desde a década de 1930, os cientistas têm dado relevância às questões como “Qual a melhor forma de educar os filhos?” e “Quais são as consequências que podem ser provocadas no desenvolvimento das crianças educadas por diferentes modelos de pais?” (Darling & Steinberg, 1993).
No sentido de melhor compreender os estilos de educação adotados pelos pais, vários autores contribuíram para uma classificação dos estilos parentais de forma a poder avaliar o seu impacto no desenvolvimento psicossocial da criança, assim como, promover hábitos saudáveis para a relação pais-filhos.
Em 1965, a psicóloga Diana Baumrind tentou descrever algumas diferenças entre as famílias, com base em observações muito longas das crianças e em entrevistas com os pais. Pretendeu obter resposta para a seguinte pergunta: “Que ligações válidas se podem estabelecer entre as atitudes e comportamentos dos pais, na família, e a personalidade das crianças?”
Baumrind analisou este assunto num estudo longitudinal conduzido com 110 crianças, da classe média e seus respectivos pais. Os resultados das suas primeiras experiências, quando as crianças tinham apenas quatro anos de idade, realçaram uma intrigante relação entre as características destas e os meios sócio-culturais das famílias. Esta investigadora descobriu que algumas das crianças eram auto-confiantes, tinham um certo auto-controlo, eram curiosas e mostravam-se satisfeitas; outras eram insatisfeitas, desconfiadas, tinham tendência a isolar-se e apresentavam um auto-conceito e uma auto-confiança baixos. Encontrou também três grupos distintos de pais, que diferem uns dos outros na forma como expressavam a sua autoridade perante as crianças e no tipo de afabilidade e tolerância que demonstravam para com elas: autoritário, permissivo e participativo.
Nas famílias autoritárias, os pais são rígidos e controladores, pois há uma tentativa de controlar e modelar as atitudes da criança. Tentam ensinar aos filhos padrões perfeitos de comportamento, sendo que, estes pais valorizam uma obediência absoluta, recorrendo a medidas punitivas (verbais ou físicas) para impor o respeito, quando as atitudes e convicções dos mesmos entram em conflito com aquilo que eles pensam ser uma conduta correcta. A ênfase é colocada na prevenção do comportamento inaceitável das crianças, tal como os pais definem este conceito, e na sua educação, tendo em vista o respeito da autoridade. São constantes as críticas ou ameaças à criança (“ se não fazes os trabalhos, deixamos de gostar de ti!”; és um inútil, nem tirar boas notas consegues!”), havendo escassas manifestações de afecto (Rivero, 2007).
As famílias permissivas, pelo contrário, fazem poucas exigências aos filhos e raramente utilizam a força ou o poder para alcançarem os seus objectivos a nível educacional (Springthall, 1999). Neste tipo de estilo parental, os pais funcionam como recursos para os desejos das crianças e não como modelos, havendo geralmente calor afetivo e comunicação positiva, sem exigências de maturidade (Rivero, 2007). Em 1983, o estilo permissivo foi dividido em dois:
Estilo indulgente – Os pais respondem aos pedidos das crianças e são carinhosos, não sendo exigentes quanto a normas ou deveres, nem atuando como modelos de comportamento.
Estilo negligente – Os pais não se envolvem nas suas funções parentais, havendo uma desresponsabilização crescente ao longo da vida da criança, mantendo apenas a satisfação de necessidade básicas (físicas, sociais, psicológicas e intelectuais).
O terceiro tipo de famílias, as participativas ou democráticas (também designado por vários autores de autorizadas) têm características comuns com os tipos anteriores, mas apresentam uma tendência geral consideravelmente diferente. Estes pais possuem limites e expectativas firmes no que diz respeito ao comportamento dos filhos. Não obstante, esforçam-se por oferecer-lhes orientação através do uso da razão e de regras. Utilizam também de um modo sensato recompensas e punições claramente relacionadas com o comportamento das crianças. O ambiente afetivo no seio deste tipo de famílias é geralmente caloroso e de aceitação. A comunicação é positiva e otimista, sendo que, estes pais adequam a sua atitude à especificidade da criança, no tocante à sua idade e motivações, fazendo exigências de maturidade concordantes com as capacidades e interesses da criança.
Quando Baumrind correlacionou as características dos pais com as diversas categorias de crianças que estudou, chegou à conclusão de que a auto-confiança, o auto-controlo, a curiosidade e a satisfação, eram aspetos presentes em maior grau nas crianças oriundas de famílias democráticas. Em contrapartida, as que pertenciam às famílias autoritárias eram submissas, dependentes, pouco responsáveis e não pareciam ter objectivos definidos. As crianças das famílias permissivas, embora fossem auto-confiantes e independentes aos quatro anos de idade, mostravam-se menos responsáveis em termos sociais e menos orientadas para a realização de tarefas do que as que pertenciam às famílias democráticas.
Enfim, filhos de pais democráticos são vistos como socialmente e instrumentalmente mais competentes do que os filhos de pais não participativos (Weber, Prado, Viezzer & Brandenburg, 2004).
A investigação tem demonstrado que pais que adotam um estilo parental participativo têm filhos com maior sucesso escolar e social (Rivero, 2007). É importante que as crianças sintam que os pais os amam incondicionalmente, mesmo quando estabelecem limites, quando dizem “não” ou quando os filhos cometem erros, e que estas posturas sejam acompanhadas de uma explicação conjunta sendo que, em algumas situações, possam ser negociadas.
O desenvolvimento social e afetivo de uma criança é condicionado pela educação parental, mas outras variáveis têm influência, como o meio escolar, os amigos, as famílias alargadas, ou mesmo a sociedade em que se encontra. Assim, poderá existir exceções em que filhos de pais com um estilo negligente de educação tenham melhores resultados ao nível escolar e social, ou o inverso, isto é, filhos de pais com um estilo participativo terem menores resultados.
De um modo geral, os estudos apontam para que os filhos de pais autoritários sejam obedientes, mas com maiores níveis de ansiedade, mostrando-se inseguros, com baixa auto-estima e um índice elevado de depressão. Sendo os filhos de pais negligentes que apresentam maiores fragilidades do ponto de vista psicológico, emocional e social.
Diana Teixeira – Psicóloga
Dezembro 2016 – 2ª Edição